quarta-feira, agosto 17, 2005

Estudos indicam que um bom relacionamento com acionistas e com o mercado valoriza empresas e reduz os custos de captação

A governança compensa?
Por Catherine Vieira Do Rio (Valor Online)

Para quem ainda tinha dúvidas se a governança realmente valoriza as
companhias e ainda temia que os bons resultados inicialmente encontrados em
função das boas práticas fosse uma maré passageira, os mais recentes estudos
não deixam dúvida. Pesquisas feitas com as empresas que efetivamente foram
negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo nos anos 2003 e 2004 tiram o
ponto de interrogação do título. Segundo os trabalhos acadêmicos mais
recentes, o respeito aos acionistas já oferece com certeza uma recompensa,
que é o aumento do valor da empresa. Um dos trabalhos, de Alexandre di
Miceli, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), revela que
uma mudança do pior para o melhor nível de governança resulta num aumento de
85% a 100% na capitalização de mercado da companhia. A capitalização
corresponde ao valor da cotação multiplicado pelo número de acionistas. É um
indicador que representa o valor das empresas listadas. Por conta disso, é
possível concluir que a evolução das práticas de governança também leva ao
aumento do mercado como um todo.

No começo, o temor era de que as evidências encontradas em outros mercados
entre as boas práticas de governança corporativa e o aumento do valor da
companhia não se repetissem no Brasil. Os estudos locais que avaliaram os
efeitos das primeiras evoluções das empresas brasileiras rumo a um melhor
relacionamento com os acionistas foram animadores. "No entanto, a maior
parte dessas primeiras pesquisas só analisavam a correlação entre alguns
aspectos isolados de governança e seu impacto na geração de valor para a
companhia", diz Miceli.

Agora, diz o especialista, começa a se consolidar a primeira leva de
trabalhos que mostra uma relação concreta e forte entre a boa governança e a
valorização da companhia. Um dos primeiros estudos que mostraram essa
ligação foi o do professor Ricardo Leal, da Coppead UFRJ, que elaborou um
quadro no qual listava as principais boas práticas e verificou que cada
ponto que a empresa cumpria equivalia a um aumento de 6,8% no valor de
mercado das ações.

A pesquisadora Flavia Padilha também acaba de concluir um trabalho de
mestrado pelo IAG PUC-Rio no qual buscou verificar quais seriam os
benefícios obtidos com a adoção de boas práticas de governança corporativa
no caso das empresas brasileiras. Importante ressaltar que o estudo da
pesquisadora toma como base dados de cerca de 200 empresas listadas e
negociadas em bolsa no ano de 2004, ou seja, já num momento mais recente. Os
principais focos da tese foram justamente a relação entre boas práticas e o
aumento do valor, por um lado, e a redução do custo do capital, por outro. O
trabalho enfatizou a transparência dada pela companhia e as características
do Conselho de Administração, tomando como parâmetros as recomendações
presentes nos códigos de boa governança.

"Os resultados para essa amostra de empresas em 2004 apresentam uma relação
estatisticamente significante entre o valor das companhias e os aspectos
relacionados às práticas de governança como, por exemplo, a boa comunicação
com o mercado por meio do Índice de Governança Corporativa (IGC)", diz
Flavia. "Com relação ao custo de capital próprio, no entanto, a análise
quantitativa dos dados foi pouco conclusiva", completa.

Apesar disso, segundo a pesquisadora, é possível encontrar indícios da
redução do custo de captação de recursos no mercado e pode-se verificar que
os novos aspectos trazidos pela bom tratamento aos acionistas minoritários
influenciam a dinâmica empresarial no Brasil. "Novas formas de governança,
especialmente as decorrentes do controle acionário compartilhado têm ocupado
espaço crescente no país", diz a pesquisadora. "Isso faz com que a discussão
da governança passe a ser mais relevante porque os diversos controladores
precisam de mecanismos para monitorar o desempenho dos gestores da
companhia."

Para Flavia, o capital de risco tende a se tornar uma fonte de recursos não
apenas menos onerosa, mas também mais adequada do ponto de vista da
governança financeira, para financiar os investimentos. "Existe uma
correspondência entre as estruturas de governança corporativa e financeira
decorrentes das mudanças sofridas pelas empresas na economia brasileira",
disse Flavia, acrescentando, no entanto, que o assunto deverá ser tema de
outros estudos.

Em seu estudo, o pesquisador di Miceli, do IBGC, procurou testar a
influência dos mecanismos de governança agrupados e não isoladamente. Para
isso, procurou testar a hipótese em diversos modelos econométricos. Ele
analisou 154 companhias não financeiras que tinham liquidez em 2002.

Segundo Miceli, a maior parte dos trabalhos anteriores procurava averiguar
se o valor de mercado das empresas era determinado por mecanismos internos
ou externos (de governança). "Ao analisar os aspectos isoladamente, não se
podia verificar uma influência isolada de cada prática, sendo que algumas
podem ter sinergias", explica Miceli.

O especialista não analisou neste trabalho o impacto da governança nos
custos de captação, mas esse é o tema de um outro estudo, que já está em
fase final. "Estou analisando não apenas o custo de capital próprio, mas
também de terceiros", diz. "Uma parte da pesquisa avalia a relação entre a
qualidade da governança e os ratings de crédito da companhia, por exemplo",
conta ele. "Intuitivamente, a relação com custo de capital menor parece
existir, mas terei em breve um embasamento mais concreto sobre isso",
conclui.

http://www.valoronline.com.br/veconomico/?show=index&mat=3215044&edicao=1163
&caderno=91&news=1&cod=50f3bacd&s=1

Nenhum comentário: