sexta-feira, dezembro 23, 2005

Para ampliar a cultura analítica dos profissionais

Para ampliar a cultura analítica dos profissionais

Opinião: o mundo moderno facilita uma perda de capacidade analítica. Nas empresas convém fortalecer essa qualidade em seus profissionais, para que possam usar bem as ferramentas que têm nas mãos.

Henrique Souza

Com a correria do mundo moderno, as pessoas têm menos tempo para observar o que acontece ao seu redor.

A contemplação tornou-se apenas uma palavra bonita do dicionário e totalmente distante da realidade. Neste contexto, a Filosofia, que já era complicada para a maioria, ficou indecifrável. Gente de todas as idades continua a encontrar dificuldade para enxergar nexo nos meandros deste estudo e, por vezes, apontam, equivocadamente, sua ‘inconsistência’, alegando que nada tem a ver com nada. Resultado: desistem.

O que acontece é simples e, também, muito sério. Houve uma perda da capacidade de análise. Esquecemos ou, o que é pior, nunca aprendemos a analisar cada fato, pensar a respeito, desvendar as entrelinhas e optar pela melhor alternativa.

Esta dificuldade estendeu-se para as mais variadas instâncias da sociedade e, obviamente, atinge profissionais de todos os cargos e que atuam nos mais diversos segmentos. É como se, freqüentemente, nos deparássemos com um dos mais famosos dilemas da Antigüidade, quando os viajantes, que passavam pelo Egito Antigo, encontravam a esfinge, que os inquiria: “decifra-me ou devoro-te”.

É evidente que diante das questões profissionais do dia-a-dia, das mais prosaicas às mais cruciais, é preciso aprimorar a capacidade analítica. E, é bom lembrar, que a solução do problema não é tão simples e, nem mesmo, óbvia.

Ora, nem mesmo os profissionais que utilizam ferramentas estatísticas para análise de dados – normalmente dos segmentos industriais –, desenvolveram esta capacidade. Em geral, possuem uma formação estatística deficitária, o que os leva a olhar para aquela profusão de tabelas, gráficos e relatórios despejados por esses sistemas, da mesma forma que os antigos viajantes olhavam para a esfinge.

É neste ponto que as empresas precisam atentar para a capacitação, especificamente analítica, dos seus profissionais. Fica claro que não é suficiente ter nas mãos, somente, poderosas ferramentas. É preciso aprimorar a capacidade analítica dos funcionários para que possam extrair delas, o máximo de seu potencial.

Neste sentido, é óbvio que não dá para mandar todo mundo de volta para a sala de aula e, nem tão pouco, exigir que façam cursos de filosofia ou, ainda, contratar um estatístico para acompanhar cada departamento.

Esta última opção, embora praticada por algumas corporações, esbarra nas necessidades atuais de trabalho, que precisa ser cada vez mais colaborativo e cria, em geral, um processo de ‘clientela interna’, o que não combina com esta necessidade.

Além disso, por mais que um estatístico conheça as tabelas, gráficos e técnicas, também precisa conhecer profundamente o negócio e suas nuances para garantir uma visão adequada para a tomada de decisão.

Neste contexto, é determinante o investimento na formação analítica de técnicos, engenheiros, gerentes e administradores.

E, por incrível que pareça (embora seja totalmente razoável), o que se tem visto, cada vez mais, é que estes treinamentos têm ficado a cargo dos próprios fornecedores de ferramentas de estatísticas.

Os fornecedores detectaram a deficiência e, com o intuito de desmistificar a ferramenta e garantir que seus clientes acessem todo o valor agregado da tecnologia, formataram cursos e treinamentos para manuseio dessas ferramentas.

Há que se considerar também, o esforço desses desenvolvedores em tornar as ferramentas de análise estatística mais amigáveis, com a incorporação de recursos intuitivos e interativos.

Houve também um abandono de linguagens proprietárias de programação, além da inclusão de serviços de suporte especializados em análise estatística, que vão além do convencional suporte técnico.

Apesar de facilitar o manuseio, estes avanços ainda são insuficientes, já que os treinamentos não suprem totalmente a necessidade, que abrange um nível acima: capacidade de análise.

E, de fato, as empresas que enxergam esse panorama e buscam gerar em seus colaboradores um hábito crescente de obtenção de embasamento científico-analítico, por meio do domínio de técnicas e ferramentas disponíveis no mercado, ampliam, significativamente, as condições de tomar decisões corretas.

E, essa prática contínua, além de habilitar os profissionais na utilização dos recursos tecnológicos, sobretudo, ajudam a desenvolver a capacidade e o raciocínio analítico frente a todas as situações do dia-a-dia, inclusive as filosóficas.

Assim, é acertado concluir que a única alternativa é investir em formação analítica dos profissionais. Afinal, estamos falando do capital intelectual; da ‘parte’ do processo responsável por pensar, analisar, decidir, realizar, conquistar, sensibilizar, usando a ferramenta mais eficiente que se tem notícia: o intelecto.

Estas qualidades são genuinamente humanas e, por mais avançadas que sejam as máquinas, sistemas e tecnologias analíticas, nunca terão esta capacidade. E é improvável que um dia venham a substituir o Homem, como canta o folclore tecnológico.[Webinsider]


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