Raquel Landim De São Paulo (Valor Econômico)
Depois de crescer em ritmo vertiginoso desde o início do governo Lula, as exportações brasileiras tendem à estabilidade em 2006. O Valor ouviu 14 dos maiores segmentos exportadores do país: automóveis, autopeças, aviação, têxtil, calçados, máquinas e equipamentos, siderurgia, petróleo, celulose, mineração, carne bovina, carne de frango, soja e açúcar. Juntos, eles vão responder por vendas externas de US$ 73 bilhões em 2005, 63% do total.
Entre os 14, cinco segmentos esperam elevar as exportações em 2006, mas três esperam queda e seis só esperam repetir o resultado deste ano. A expectativa de estagnação em níveis próximos a 2005 decorre de fatores como alta do dólar, queda do preço das commodities, menor demanda externa, maior consumo interno e barreiras sanitárias. Quem espera alta, não vai além de 10%.
Em 2002, os embarques brasileiros cresceram apenas 3,7%. Desde então, acumularam expressivos 21% em 2003, 32% em 2004 e devem encerrar 2005 em US$ 117 bilhões, com mais de 20% de alta. Esses resultados refletem duas fortes desvalorizações cambiais vividas pelo país, em 1999 e 2003.
Para 2006, o quadro é menos otimista mesmo considerando alguma recuperação cambial. O mercado projeta um câmbio de R$ 2,48 para o final de 2006, uma desvalorização de 8,7% em relação à projeção para o final de 2005. A MS Consult vê queda de 1,7% nas exportações. A MB Associados trabalha com alta de 6%, o que elevaria as vendas externas para US$ 124 bilhões. Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult, aposta em queda das exportações de carnes, por conta do embargo à carne bovina, baixa nas vendas de produtos petroquímicos, provocada pelo aumento da demanda interna, e queda nas vendas de produtos siderúrgicos pelo recuo do preço do aço.
As previsões contemplam alta das importações, o que reduziria o saldo comercial do próximo ano. A MB Associados trabalha com compras de US$ 88 bilhões e saldo de US$ 36 bilhões em 2006. A MS Consult projeta superávit de US$ 35 bilhões e importações que subiriam de US$ 74 bilhões para US$ 80 bilhões em 2006. "Ainda assim será um resultado expressivo, que garante o equilíbrio das contas externas do país", diz Silveira.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, o saldo da balança comercial só será significativo em 2006 porque o crescimento da demanda externa, ainda que menos robusto do que o deste ano, deve influenciar mais o comportamento das exportações brasileiras do que a valorização cambial.
A Embraer informou que pretende vender 145 aviões para o exterior em 2006. É o mesmo volume de jatos que devem ser embarcados nesse ano. "O volume é o mesmo, mas os preços podem ser um pouco melhores", avalia Pedro Galdi, analista de investimentos do banco ABN Amro. Ele explica que a empresa passará a exportar sua nova "família" de aviões, maiores e, portanto, mais caros. Galdi estima aumento de 10% na receita da Embraer com exportações.
Setores intensivos em mão-de-obra, como têxteis e calçados, estão entre os que mais sofrem com a recente queda do dólar, que já ronda R$ 2,20. Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) projeta estabilidade para as exportações do setor em 2006. Esse ano, os embarques devem chegar a US$ 2,1 bilhão, mesmo nível de 2004. Além do câmbio, o fim do controle do comércio mundial de têxteis por meio de cotas acirrou a concorrência com a China. "A situação é mais complicada para o setor de vestuário, que possui maior valor agregado", diz Pimentel.
Esse ano, o Brasil deve exportar US$ 8 bilhões em máquinas e equipamentos, obtendo pequeno superávit de US$ 100 milhões no setor, que é tradicionalmente deficitário, segundo projeções da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Para Newton de Mello, presidente da entidade, o câmbio deve provocar queda nas exportações do setor em 2006. "Os fabricantes de máquinas não estão procurando novos mercados", diz ele, acrescentando que há defasagem média de quatro meses entre fechar o negócio e exportar o produto.
Osmar Zogbi, presidente da Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa) projeta para 2006 o mesmo patamar de exportações desse ano. Os embarques do setor devem atingir US$ 3,4 bilhões. Ele explica que a produção de celulose deve aumentar cerca de 5% em 2006, passando de 10 milhões para 10,5 milhões de toneladas. Mas também está prevista alta no consumo de papel no mercado interno, com o crescimento um pouco mais acelerado da economia.
Independente do atual patamar do câmbio, o setor exporta 50% de sua produção de celulose e 20% da produção de papel. "Só que com o dólar baixo, os resultados das empresas são piores em reais, o que posterga os investimentos. Eles vão ocorrer, mas não na velocidade que gostaríamos", diz Zogbi.
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