Internet: Este ano a subsidiária trará ao país versões locais de produtos que estão disponíveis nos EUA
Ricardo Cesar De São Paulo (Valor Online})
A mais popular ferramenta de busca na internet em todo o mundo já estabeleceu os planos para sua operação brasileira em 2006: ir além da busca. Pelo menos do tradicional serviço que permite localizar web sites. Cinco meses após abrir oficialmente seu escritório comercial no país, o Google fixou como meta tornar seus demais produtos conhecidos no mercado nacional - e ganhar dinheiro com eles.
Para viabilizar essa estratégia, a empresa planeja uma série de "localizações" - jargão empregado para o processo de adaptação de um software a outro país, incluindo a tradução para o idioma oficial - e o subseqüente lançamento de ferramentas que já fazem sucesso nos Estados Unidos. A primeira delas, que deve estrear em versão brasileira ainda em janeiro, será o Google Earth, que oferece mapas e imagens de satélite por meio dos quais o internauta consegue localizar estabelecimentos e pontos geográficos.
Outro produto que será tropicalizado em 2006 é o Local, que realiza buscas com base em dois parâmetros: o que o internauta procura e onde ele procura. Quem pesquisa opções de pizzaria, por exemplo, poderá delimitar o bairro dos estabelecimentos listados nas respostas. Essa possibilidade dá margem a uma série de outros serviços, como links para críticas gastronômicas, por exemplo. E, claro, torna o Google - que obtém quase toda a sua receita de publicidade - mais atraente para os anunciantes.
"Há 22 milhões de brasileiros acessando nosso site mensalmente, mas eles não conhecem todas as ferramentas que oferecemos", diz Alexandre Hohagen, diretor-geral da subsidiária nacional do Google. "Em 2006, nosso desafio é realizar um trabalho de educação no mercado, fazendo os serviços que temos gerarem receita. Para isso, vamos investir em localização. Os produtos precisam ter a cara do Brasil."
O centro de pesquisa do Google para a América Latina, situado em Belo Horizonte (MG), está auxiliando nesse trabalho. Fruto da aquisição da Akwan, uma empresa brasileira que desenvolvia tecnologias de busca na internet, o centro reporta-se diretamente aos engenheiros da sede da companhia, nos EUA, mas interage com a equipe comercial que trabalha no escritório de São Paulo, sede da subsidiária nacional.
Em parte, os esforços de localização já começaram. Exemplo disso foi o lançamento do Google News, serviço que lista notícias on-line de diversas fontes, e a oferta em português do Picasa, um software para organizar e modificar fotografias e imagens. Outra novidade que ganhou uma versão para o Brasil é o Google Desktop, que facilita a pesquisa de todo o tipo de arquivos no computador do usuário.
Os dois últimos produtos são um claro exemplo da estratégia mundial do Google de transformar a web no centro da experiência de computação, retirando esse papel dos softwares que rodam nas máquinas. Essa iniciativa afeta diretamente a Microsoft, cujo sistema operacional Windows está instalado em mais de 90% dos PCs de todo o mundo. Embora também tenha uma presença forte na rede mundial por meio do portal MSN, que concorre com o Google, no mundo on-line a empresa de Bill Gates não desfruta da mesma liderança que obteve nos computadores.
Curiosamente, o Orkut - site de comunidades virtuais do Google que se tornou uma verdadeira febre no país - não faz parte dos planos de localização da companhia. Com apenas 20 mil usuários mensais nos Estados Unidos, o serviço é visitado por mais de 6 milhões de brasileiros todos os meses. "O Orkut teve uma aceitação surpreendente no Brasil, mas ainda não conseguimos uma fórmula para obter receita com ele - e diria que isso está longe de acontecer", diz Hohagen.
Parte da explicação para isso é que o modelo de negócios do Google é inteiramente calcado nos chamados links patrocinados - os pequenos textos de publicidade que são exibidos ao lado das respostas listadas após uma busca -, que aparentemente ainda não se ajustaram ao Orkut.
Mas, na maioria dos serviços do Google, o modelo adapta-se perfeitamente. Segundo Hohagen, a aceitação dos links patrocinados no Brasil está sendo muito rápida. Uma das vantagens é que, para as palavras menos procuradas, o anunciante paga apenas poucos centavos para que sua publicidade apareça na área de links patrocinados. Mesmo assim, o Google só cobra quando o anúncio é clicado pelo internauta. Nas palavras mais concorridas, os anunciantes fazem um leilão. A propaganda de cada um é exibida na lista de links patrocinados pela ordem. Quem pagou mais fica em primeiro lugar, e assim sucessivamente.
Dessa forma, o sistema permite que micro e pequenas empresas com pouca verba anunciem na internet. Não por acaso, esses estabelecimentos representam o maior volume de anunciantes do Google no Brasil. Mas a subsidiária já montou uma equipe comercial para visitar grandes companhias e oferecer pacotes mais atraentes, que reúnem até centenas de palavras-chave. Este também será um dos focos de atuação da equipe local em 2006.
Embora não revele seus resultados no país, o Google passou por um contratempo em outubro, quando a "B2B Magazine", uma publicação brasileira especializada no mercado de tecnologia, ampliou um quadro de anotações que aparecia ao fundo de uma foto de divulgação da empresa, feita no escritório de São Paulo.
O quadro trazia o valor de "185.500" para o que parecia ser a meta do terceiro trimestre e informava que a companhia havia alcançado "222.800" no período. A imagem também exibia as metas para outubro (150.000), novembro (175.000 ) e dezembro (175.000). Não havia indicações que permitissem saber se os valores estavam em reais ou dólares nem apontar com segurança a que os números se referiam.
Hohagen afirma que as informações contidas no quadro são irrelevantes e não representam os números de toda a subsidiária. "Temos 25 funcionários no país. A imagem não diz nada e o negócio da companhia no Brasil é bem mais complexo do que um quadro atrás de um único funcionário."
Contratempos à parte, com o cronograma de localizações definido e a equipe formada, Hohagen acredita que o Google está pronto para dar um salto no Brasil, a exemplo do que fez nos últimos anos nos EUA. Embora traga algumas dores de cabeça - como a imagem publicada pela "B2B Magazine" -, a gigantesca atenção que a empresa está chamando na mídia facilita o trabalho. Com apenas sete anos de vida e cinco meses no país, o Google já dispensa apresentações. Hohagen quer aproveitar essa onda para popularizar o maior número possível de serviços da companhia em 2006.
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