Comércio eletrônico: Venda on-line de combustível já representa mais da metade da receita total.
João Luiz Rosa De São Paulo (Valor Online)
A julgar pelo sucesso das vendas via internet da Petróleo Ipiranga - a terceira maior empresa do Brasil, segundo o ranking da revista Valor 1000 -, era de se esperar que Guilherme Cruz, gerente da divisão de informática da companhia, estivesse no paraíso. A Ipiranga começou a investir pesado na web há sete anos. Em 2005, fechou R$ 8 bilhões em negócios na internet. Isso mesmo: bilhões. Para se ter uma idéia do que esse volume representa, trata-se de mais de 50% da receita total da empresa.
O problema para Cruz é que ao imprimir ao portal de comércio eletrônico esse grau de relevância, a Ipiranga passou a comprar mais e mais servidores - os potentes, caros e complexos equipamentos que administram uma rede de computadores. Resultado: em meados do ano passado, a empresa tinha 16 servidores diferentes só para a internet.
Administrar tantos equipamentos não é fácil, nem barato; mas o pior é que para dar conta dos volumes de venda cada vez maiores, a aquisição de servidores parecia destinada a um ciclo sem fim, com custos potencialmente alarmantes. Explica-se: em geral, aplicações diferentes são processadas em servidores diferentes, que funcionam de maneira estanque. Nesse modelo, "a capacidade ociosa de um servidor não podia ser aproveitada em outro, para o qual havia demanda. O que sobrava de um lado, faltava de outro", diz Cruz. Enquanto isso, o parque de servidores não parava de crescer.
No fim de 2004, a Ipiranga começou a estudar como continuar a estimular os negócios na web, sem que a infra-estrutura de tecnologia da informação crescesse na mesma proporção. "Idealizamos qual seria a melhor saída e avaliamos diversos formatos e fornecedores", conta o executivo.
A escolha recaiu sobre a IBM e, mais especificamente, em um processo que parece ganhar força nas companhias que fazem uso intensivo da tecnologia: a virtualização dos servidores.
O processo é feito por meio de um software vendido junto com o equipamento: o computador é um só, mas dentro dele o programa constrói máquinas virtuais dedicadas a fins específicos, sobre os mesmos processadores. A principal vantagem é que o processamento das informações continua a seguir rotas independentes, mas a infra-estrutura é facilmente compartilhada entre as máquinas virtuais, quando existe essa necessidade.
"Vamos supor que a empresa dê início a uma ação de marketing que aumente o uso de uma aplicação. Com um comando, você aloca mais processadores de um ambiente para o outro", explica Cruz. "Sob o modelo antigo, seria necessário adquirir processadores e memórias adicionais ou transferir o servidor para a nova atividade, o que podia levar até um mês."
Se a empresa precisasse comprar um servidor novo, a demora poderia ser ainda maior. "Em média, o processo de aquisição demora de 60 a 70 dias", diz Mauricio Conceição, gerente da IBM responsável pelo projeto da Ipiranga.
Além de evitar os gastos com novos equipamentos, a Ipiranga conseguiu reduzir o número de servidores existentes. É o chamado processo de consolidação, outro fenômeno cada vez mais comum nas grandes empresas. Os 16 servidores destinados à web foram substituídos por apenas 4. "Com a mudança, obtivemos uma economia de 50% nos nossos custos", diz Cruz.
Da primeira reunião de definição com a equipe da IBM até a entrada em operação do novo desenho foram gastos cerca de três meses para completar a transição. A nova infra-estrutura entrou no ar entre o fim de setembro e o início de outubro.
Agora, o plano é fazer um trabalho semelhante nos servidores destinados a outras áreas. Campo é o que não falta: há cerca de 120 desses equipamentos espalhados pela companhia. "Utilizamos o ambiente da web como um projeto piloto para o restante da área de tecnologia da empresa", afirma Conceição, da IBM.
A decisão de começar as mudanças pela infra-estrutura destinada à internet é óbvia. A Ipiranga percebeu que pode automatizar boa parte de suas vendas mais comuns, liberando a equipe de atendimento para trabalhos mais sofisticados de relacionamento com o cliente.
A maior parte das vendas on-line da Ipiranga é composta de combustível para os cerca de 4 mil postos de gasolina da rede existentes no país, além de grandes consumidores, como indústrias, hospitais e oficinas de automóveis. Outro produtos, como lubrificantes, também têm boa saída pela internet. Além disso, a empresa percebeu que pode oferecer serviços - próprios e de parceiros - por meio da rede, como contratos de manutenção de bombas de combustível.
Além dos negócios em si, a internet também tem funcionado como uma ferramenta de comunicação com os parceiros, à medida que eles se multiplicam e fica mais difícil estabelecer um contato direto. É o caso das lojas de conveniência, que no caso da Ipiranga operam sob duas bandeiras - MPM e Getoil. Na semana passada, a Ipiranga inaugurou sua franquia de número mil.
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