quinta-feira, agosto 18, 2005

Entrevista James C. Hunter: Com lições de liderança, autor de "O Monge e o Executivo" é o escritor que mais vende no Brasil

O homem que bateu o "Código Da Vinci"
Por Andrea Giardino De São Paulo

Foto: Fabiano Cerchiari/Valor

Hunter: "Ter capacidade para executar não significa que você seja líder; o
líder é visto como um inspirador, que transforma as pessoas em profissionais
melhores"
Fenômeno do momento no mercado editorial brasileiro, "O Monge e o Executivo"
(Editora Sextante/GMT) também se transformou em uma verdadeira febre no
mundo corporativo. Com seus ensinamentos, o livro está virando uma espécie
de bíblia para alguns profissionais e diversas empresas passaram a
distribuí-lo para seus funcionários, a exemplo da Gerdau, do Banco Itaú e da
Petrobras Transportes.

Pouco mais de um ano após ter sido lançado no Brasil, o livro atingiu a
impressionante marca dos 280 mil exemplares vendidos. Por semanas
consecutivas, ocupa o primeiro lugar da lista dos mais vendidos publicada
pelo Valor. De fevereiro para cá, já ultrapassou o "Código da Vinci" -
também da Sextante, um dos maiores sucessos mundiais do gênero ficção - em
unidades mensais vendidas pela editora.

Nos últimos 20 dias, foram vendidos 50 mil exemplares, numa carreira
ascendente. Em fevereiro, a média era de 20 mil unidades/ mês. Graças ao
título, a editora teve 20% de aumento na receita. "É um fenômeno, pois é
dirigido ao mundo dos negócios, en quanto 'O Código Da Vinci' é voltado para
todos os segmentos. Foi uma surpresa", observa Marcos Pereira da Veiga,
diretor da Sextante.

O êxito de "O Monge e o Executivo" pode ser explicado para além da
atratividade da obra. Livros do gênero de negócios se multiplicam a um ritmo
duas vezes mais rápido do que o mercado editorial como um todo. As obras
especializadas no setor cresceram 5% de 2002 para 2003, enquanto o mercado
editorial aumentou apenas 2%, de acordo com pesquisa da Câmara Brasileira do
Livro (CBL). No ano passado, o vigor se manteve, com a ampliação de cerca de
5% da participação de livros do gênero no total do mercado, em relação ao
ano anterior.

"O Monge e o Executivo" foi escrito por um autor praticamente desconhecido
do público brasileiro, o consultor americano James C. Hunter, deixando para
trás renomados gurus do universo dos negócios, como Jack Welch, autor de
"Paixão por Vencer - A Bíblia do Sucesso" (Campus/Elsevier), em terceiro
lugar na lista dos mais vendidos do Valor.

Acredita-se que todo esse sucesso deve-se ao fato de Hunter pregar um modelo
de liderança mais humanizado, com amor e autoridade, e não com o uso do
poder. "Quando você usa o poder, obriga as pessoas a fazerem sua vontade",
diz. "Com autoridade, as pessoas fazem o que você deseja, de forma
espontânea."

Em visita esta semana ao Brasil, Hunter concedeu entrevista ao Valor, na
qual fala sobre a filosofia do líder que serve e inspira suas equipes, o
porquê de amar os colegas de trabalho e os ensinamentos de grandes líderes
da história. Leia, a seguir, os principais trechos.

Valor: O livro conta a história de um executivo que vai para um mosteiro
beneditino em busca de soluções para seus dilemas pessoais e profissionais.
Que tipo de experiência esse profissional pode adquirir com a figura do
monge?

James C. Hunter: Antes de tudo, aprender a ser um líder. Por comandar uma
determinada congregação, o monge sabe lidar com o outro. E usando não o
poder e sim a autoridade. Quando você usa o artifício do poder, acaba
obrigando as pessoas a fazer sua vontade por imposição. Com autoridade, as
pessoas fazem o que você deseja por meio de sua influência.

Valor: Essa questão de influenciar pessoas na obra está ligada à figura de
Jesus Cristo. O que os líderes podem aprender com ele?

Hunter: Liderar é influenciar. E nesse ponto Jesus tinha uma capacidade
imbatível. Há dez anos, quando comecei a pensar em tudo isso, descobri outro
conceito pregado por ele, de que liderar é servir. Para mim era algo difícil
de entender, porque a função do servo se confundia com a do escravo. Mas
percebi que servir é a capacidade de identificar e reconhecer as
necessidades dos outros, satisfazendo-as. Vale ressaltar que satisfazer não
significa atender aos desejos pessoais.

Valor: Qual é o verdadeiro líder na sua opinião?

Hunter: É aquele que, além de tudo isso, tem compaixão, honestidade,
comprometimento e vontade de melhorar tanto a si mesmo quanto às pessoas que
estão em sua volta. É preciso deixar claro também que há um diferença entre
quem lidera e quem gerencia. Ter capacidade para executar não significa que
você seja um líder. O líder é visto como um inspirador, que transforma as
pessoas em profissionais melhores. Ao contrário do que se vende por aí nos
cursos de MBAs, que têm o foco muito mais nas habilidades gerenciais dos
executivos do que a liderança em si.

Valor: Os cortes nas empresas e a concentração de trabalho têm provocado uma
grande insatisfação das pessoas. Qual a sua visão sobre esse cenário?

Hunter: Algumas pesquisas recentes realizada nos Estados Unidos mostram que
há uma grande rotatividade entre a nova geração de profissionais. Cerca de
dois terços das pessoas que mudam de emprego saem por causa de seus chefes e
não por problemas na empresa. Quem falha é o chefe, que peca pela falta de
liderança e pela incapacidade de inspirar o profissional a permanecer na
companhia. Vejo que algumas organizações começaram a perceber isso nos
últimos anos e passaram a investir não apenas em ter ótimos gerentes ou
administradores, mas em ter bons líderes.

Valor: O senhor prega em "O Monge e o Executivo" o amor entre o líder e seus
subordinados. De que forma isso pode ser aplicado nas corporações, sem que
pareça algo piegas?

Hunter: Questionei por várias vezes a idéia de incluir o tema nos assuntos
ligados à liderança. Temi ser mal interpretado, mas encontrei dificuldade em
manter de fora a questão. Todos os maiores líderes da história com que me
deparei quando desenvolvia meu livro estavam ligados a ações ligadas ao
amor, como Jesus Cristo, Madre Teresa de Calcutá e Ghandi. A definição
clássica de amor é mais associada a sentimento. Mas ela significa respeitar
o próximo, procurar o melhor de cada pessoa.

Valor: Para o senhor, a que se deve o sucesso de seu livro?

Hunter: A urgência de mudanças no mundo dos negócios é consenso entre as
empresas e os executivos. É preciso mudar porque os resultados não são
satisfatórios e a capacidade de manter talento na empresa está mais difícil.
Além disso, o custo de buscar novos talentos também ficou mais alto. As
companhias despertaram para a importância de se ter uma boa liderança,
peça-chave para o futuro dos negócios. E é tudo isso que procurei retratar
em meu livro.

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