quarta-feira, março 08, 2006

O exemplo da Weg - Numa decisão rara, empresa admite que foi roubada por um grupo de funcionários.

Nota: realmente a entrevista foi beeeeeem resumida, mas ainda assim bem fiel ao que disse. Só não me lembro de ter citado o termo "comportamento hacker" mas a idéia principal foi preservada. Ressalva para a equipe de auditoria interna da WEG: ponto para a comunidade!

Por Lílian Cunha

O ano começou mal para a multinacional brasileira Weg. Há duas semanas, ao divulgar o balanço de 2005, a coluna dos lucros apresentava uma queda de 7% — R$ 374 milhões contra os R$ 402 do período anterior. Não que refrescasse muita coisa, mas o resultado poderia ter sido R$ 2 milhões melhor se não fosse um detalhe que está se tornando mais corriqueiro do que se imagina no mundo corporativo: o desvio de dinheiro por parte de funcionários. No caso da Weg, o mentor do golpe teria sido um rapaz de 20 anos que trabalhava como auxiliar do setor financeiro da fábrica de Jaraguá do Sul (SC). Com ajuda de seu irmão gêmeo, ex-estagiário da Weg, e mais dois amigos, o jovem teria desviado R$ 2 milhões da companhia. O esquema era ardiloso: o garoto forjava notas fiscais de falsos fornecedores e determinava o pagamento em contas de laranjas – 14 empregados da companhia devidamente subornados pelos suspeitos. A tramóia foi descoberta pela auditoria interna da Weg. Na semana passada, os quatro suspeitos deveriam ter se apresentado à polícia, que não revela seus nomes para garantir o sigilo das investigações. Mas eles não apareceram e foram considerados foragidos. Em nota oficial, a Weg declarou que “tem certeza que o episódio lamentável é apenas um caso isolado, não refletindo a conduta moral de seus mais de 15 mil colaboradores”.

Embora lacônico, o comunicado revela uma atitude rara no universo das empresas. “Num caso desses, o mais comum é esconder o fato”, diz Ricardo Castro, diretor da Associação de Auditoria e Controle de Sistemas de Informação. “Para muitas empresas, revelar que foi vítima de um golpe soa como marketing negativo”. Ou seja, o mercado pode considerar que a companhia é vulnerável. Por isso, a solução mais comum é demitir o funcionário, de preferência sem justa causa, e abafar o caso. A Weg, ao ser transparente, certamente conseguirá um outro benefício: coibir futuros golpes, uma vez que a sensação de impunidade é uma das principais motivações dos gatunos. “O ladrão nasce feito. A ocasião faz o furto”, diz Castro, parafraseando Machado de Assis. As empresas, segundo ele, dão chance para que crimes aconteçam quando não realizam auditorias internas freqüentes e quando delegam muita autoridade a pouca gente. Mas o erro maior está no departamento de Recursos Humanos. “Nos EUA, 80% dos candidatos mentem no currículo. Isso acontece aqui também”, diz. Se o RH checasse as informações descritas, muitos mentirosos ficariam de fora das empresas. E há também o que Castro chama de “comportamento hacker”, ou seja, o funcionário rouba a empresa como compensação por seu baixo salário. “Para muita gente, roubar da empresa não é cometer um ato ilícito, é ser esperto.” 

       
       
R$ 2 milhões foi o total desviado por um grupo de 15 funcionários da Weg. O golpe foi constatado na auditoria interna.

       

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