quarta-feira, agosto 30, 2006

Confidências virtuais

Pedro Doria*

O quanto a internet nos muda o comportamento? Há por aí uma penca de
cientistas sociais cheios de teorias – mas, na verdade, é muito cedo para
dizer. É preciso que a geração criada com acesso à internet, uma trupe que
está chegando agora à adolescência, fique adulta, se case, siga carreira,
tenha filhos – viva uma vida como se a rede sempre houvesse existido. Aí
dará para medir o seu impacto.

Não faz muito tempo, ouvi uma história curiosa que partiu de uma menina de
10 anos. Quando ela nasceu, os pais já tinham internet em casa. Ela ainda
não sabe dos amores que terá, mas já começa muito lentamente a perceber o
que há além da infância.

E a menina reclamava da própria timidez – é impossível chegar à porta da
pré-adolescência sem uma pilha de inseguranças, mas todas as letras de rock
do mundo estão aí para confirmar que nossa timidez parece sempre única, os
outros são todos seguros.

A menina, porém, havia encontrado uma solução: o MSN, nome pelo qual o
mensageiro instantâneo da Microsoft – o Messenger – ficou conhecido. (A
menina não sabe do tempo em que usávamos ICQ.) “Coisas mais íntimas, eu só
falo pelo MSN. Na escola, ao vivo, não dá para dizer.” Impossível sequer
desconfiar de quais são as coisas mais íntimas que uma menina de 10 anos
esconde – a discrição recomenda não perguntar.

Segundo ela, isto é regra entre seus amigos e amigas. Forma-se um jogo.
Quando se encontram no espaço público do colégio, conversam amenidades,
coisas do cotidiano, elucidam dúvidas das aulas, comentam das férias ou
mesmo do fim de semana. Aquilo que os aflige, comentam entre si. Só que
virtualmente.

A princípio, não parece haver nada de novo aí – a internet sempre teve
disso. Cheio de vontades ou pleno de angústias, o indivíduo assume um
apelido, busca fóruns ou chats de gente igualmente aflita e conversa por
horas a fio. Protegido pelo anonimato em diálogos com quem mora noutra
cidade, Estado ou país, ele põe o coração na mesa e fala tudo o que sente.

É tão antigo que o ditado que melhor resume a internet saiu publicado pela
primeira vez em 1992 – poucos anos, portanto, antes de o grande público
saber o que era a rede. Foi num cartum da revista The New Yorker. Nele, um
cachorro está à frente de um computador e diz a outro, que o observa: “Na
internet, ninguém sabe que você é um cachorro.” Moral da história, a loura
de seios fartos que alimenta os sonhos do marmanjo pode muito bem ser um
sujeito barbado e carrancudo do interior de Mato Grosso.

Mas é só na aparência que a história da menina de 10 anos é uma repetição do
velho tema. Ela não se identifica por apelido; é pelo nome. E o retrato na
tela do MSN não foi buscado em um canto da rede; é o seu. Não há, sequer, o
anonimato da distância. As pessoas com quem conversa são seus amigos. (Até
porque, cientes, seus pais acompanham cuidadosos seu uso da rede; respeitam
sua privacidade, mas vigiam ainda assim para que converse apenas com
conhecidos.)

Então qual é a diferença? Por que é mais fácil falar de coisas íntimas pela
rede com quem se conversou de manhã e se conversará na manhã seguinte?

Traga a questão para o mundo adulto e os paralelos nos escapam. É claro que,
num arroubo de audácia, talvez inspirado por uma cerveja, é possível que se
declare um amor impossível por e-mail. Mas isto vem (quase) sempre seguido
de arrependimento. É possível dizer umas poucas e boas para o chefe – e
neste caso o arrependimento é certo. É a exceção, no entanto. Não se diz
pela rede, para conhecidos, o que não se falaria pessoalmente. Ao menos,
isto é raro.

É só que a menina de 10 anos, muito séria e ensimesmada, com a pose honesta
de quem ensina algo que aprendeu sobre a vida, conta isso. As coisas
íntimas, falamos pelo MSN. Não tem a rudeza do cara a cara, tampouco a
surpresa. A confidência não é recebida por grito ou choque ou choro. Apara
arestas, defende da reação do outro. E, quando vier o encontro do dia
seguinte, bem, já passou um tempo e a reação nos é mais leve. Pensando bem,
a menina é uma sábia e percebeu algo de óbvio sobre a internet.

*pdoria@nominimo.com.br

Um comentário:

Melissa Chanut disse...

o homen se chama romulo
ele fika flando besteras disendo q eu so puta ¬¬
e eu so menor garota de familia
bem conportada
e eu flei q ia denuncia ele